
Depois do empate em casa frente à Albânia, a Selecção Nacional foi agora ao Brasil bater recordes com mais de 50 anos.
Se o jogo de estreia de Carlos Queirós como seleccionador correu bem (vitória frente às Ilhas Faroé, por 5-0), a verdade é que, de jogo para jogo, as coisas parecem piorar. No passado dia 19, nos arredores de Brasília, atingiu-se o “auge”.
Depois de 10 horas de viagem, e com uma diferença horária de mais de quatro horas, os jogadores portugueses foram capazes de “aguentar” os canarinhos durante algum tempo. E até marcaram primeiro, por intermédio de Danny (médio colocado a ponta-de-lança),logo ao minuto 5. Mas, nem 5 minutos depois, o Brasil chegou ao empate por Luís Fabiano. O antigo jogador do F.C. Porto não se ficaria por aí e marcaria ainda mais duas vezes.
Ao intervalo, Portugal perdia por 2-1, nada de muito anormal até então. Na segunda metade, contudo, as coisas descarrilaram por completo.
Maicon, lateral-direito canarinho/interista, que durante o primeiro período poucas vezes subiu no terreno, decidiu que estava na hora de “meter Cristiano Ronaldo no bolso” e fez o que quis do corredor esquerdo da selecção das quinas. Isso mesmo está expresso nos cruzamentos bem medidos para a área e no seu golo, ao minuto 56, num lance em que Quim não está isento de culpas.
Portugal ainda voltaria a marcar, por Simão Sabrosa, mas a carga ofensiva brasileira estava longe de ter terminado. Elano, com um grande remate, e também Adriano, quiseram fazer parte deste resultado histórico para o futebol português: 6-2.
Se com o golo de Elano, o quinto do Brasil, a Selecção igualou um recorde com 25 anos (derrota por 5-0 na URSS, durante a qualificação para o Euro’84), o golo de Adriano trouxe uma recordação ainda mais pessimista: Portugal não sofria 6 golos desde 1955, quando foi derrotado também por 6-2, frente à Suécia.
É verdade que foi um jogo particular, mas a noite de ontem não deve ser esquecida; deve-se, sim, reflectir sobre ela.
Para quem criticava Scolari, está na hora de questionar a decisão por Carlos Queiroz, um treinador que, depois das vitórias nos Mundiais de 1989 e 1991, na categoria de Sub-20, nunca foi feliz como treinador principal.
Onde está a equipa que o “Sargentão” demorou cinco anos a construir? Por que razão o melhor marcador português no activo ficou fora da convocatória? Por que razão ficou Hugo Almeida, único ponta de lança de raiz convocado, no banco? Tratando-se de um particular, e já se sabendo aquilo de que Paulo Ferreira é capaz, por que razão César Peixoto entrou apenas no final do jogo, e para médio? E porquê agendar um jogo do outro lado do Atlântico, a meio de uma semana em que não há paragem dos campeonatos?
Há quem justifique esta “crise” com a falta de jogadores para actuar no lado esquerdo da defesa e no ataque. Mas essa questão só se coloca a partir do momento em que o seleccionador nacional apenas olha para quem joga (maioritariamente) nos três “grandes” ou no estrangeiro. No entanto, se olharmos às equipas mais pequenas dos campeonatos profissionais, ou mesmo à II e III Divisões, conseguimos encontrar bons jogadores que, trabalhados, têm capacidade para jogar nessas posições.
Exemplo para a lateral esquerda é Carvalhinho, da Associação Desportiva Oliveirense. Mas apetece perguntar por que não joga Antunes, esse sim lateral esquerdo de raiz. Para o ataque, há jogadores como João Cruz, Pedro Fidalgo e Daniel Vieira, da A.D. Oliveirense, Vítor Hugo, do Tirsense, ou o redescoberto Armando Sá (Sp. Braga) que tão boa conta deu do papel de ponta de lança no particular do dia anterior contra a Espanha "papa-títulos" em sub-21.
Colaboração de Paulo Moreira